Muito se tem escrito a propósito da “Transformação Digital” (TD) nos últimos tempos, principalmente com o propósito de tornar simples aquilo que parece – e é – complicado.
O que sabemos, de facto, acerca deste conceito que, desde 2011, tem tomado conta do jargão corporativo e lançou uma corrida furiosa em busca do “modelo de negócio do futuro”? Bom, para começar – e desde já identificando uma das principais fontes de complexidade associada – a interpretação da TD numa empresa varia consoante a função de quem faz essa mesma interpretação, embora todas elas tenham dois passos fundamentais em comum:
– a digitização: conversão de informação em formato digital;
– a digitalização: utilização dos meios digitais para aumentar a eficiência dos processos;
Por exemplo, se perguntarmos ao diretor de marketing, ficamos a saber que a TD é a alteração da forma como a empresa chega aos seus clientes. Consciente da mudança de hábitos dos consumidores, por exemplo no que toca à utilização de dispositivos móveis, foca-se na digitização e digitalização do processo de interação com o seu mercado. Se perguntarmos ao diretor financeiro, uma das bases da sua resposta são as poupanças que podem ser conseguidas, por exemplo, nos custos de estrutura, com a promoção do teletrabalho, nos custos de infraestrutura e recursos humanos próprios, globalizando serviços e aproveitando os benefícios do cloud-computing, etc. O diretor de tecnologia vai querer implementar as soluções mais atuais de forma aumentar a segurança e a robustez da infraestrutura informática e, paralelamente, disseminar a utilização de plataformas colaborativas e de ferramentas de produtividade transversais aos diversos departamentos, etc, etc, etc.
Se considerarmos que, em grande parte das empresas, a incumbência de gestão desta mudança fica sob a responsabilidade de um dos departamentos identificados acima, percebe-se porque menos de 30% das empresas que tentaram tiveram sucesso no processo de TD (sucesso implica o aumento da performance global e a sustentabilidade a prazo das medidas tomadas), segundo um inquérito efetuado pela McKinsey&Company. Pela mesma fonte, ficamos a saber que o sucesso é quase 3 vezes superior em empresas com menos de 100 colaboradores quando comparado com o resultado observado em empresas com mais de 50.000 colaboradores – uma consequência lógica se considerarmos que a complexidade aumenta com a dimensão das estruturas.
Qual será, portanto, o bom princípio pelo qual deverá ser abordada a TD, tendo consciência que há empresas parecidas, mas não há empresas iguais? Num elemento central: o CEO. Numa perspectiva empresarial, o CEO deverá ser o elemento aglutinador de todas as (válidas) interpretações e, paralelamente, estruturar o processo de transformação com base numa estratégia de mudança de modelo de negócio, bem como sabê-lo comunicar de forma clara e transparente a todos os níveis da sua organização, criando a expectativa e a dinâmica positiva essencial ao sucesso de algo tão significativo e estruturante. É a ele que cabe acrescentar o factor “criatividade” aos processos formais inerentes à mudança e “trazer a bordo” todos os stakeholders da organização – que quanto maior, mais complexa se apresenta esta tarefa.
Um dos principais, se não o principal, foco de uma transformação, é a experiência proporcionada ao cliente – que se repercutirá directamente nos resultados da empresa. É, portanto, um bom princípio escutar a voz dos clientes quando se está a desenhar o plano de evolução. É “meio caminho andado” para se identificar a linha orientadora de todo o processo.
Deve existir o suporte numa consultoria técnica que seja capaz de identificar as ferramentas mais adequadas – ou a sua adaptação, à evolução dos diferentes sectores, negócios, funções, etc.
Em jeito de conclusão, ficam quatro das principais aprendizagens feitas ao longo destes anos acerca da Transformação Digital:
– o CEO da empresa deve ser o “dono” do processo de transformação;
– dois pilares de sustentação da transformação são a digitização e digitalização;
– empresas mais pequenas têm uma maior taxa de sucesso;
– é essencial ter em conta o feedback do mercado quando se traça o plano;
Além desta, há outra abordagem a partir da qual podemos fazer a análise do conceito – e é daqui que emerge a necessidade de transformação das empresas: o que representa para a sociedade em geral a Transformação Digital? Mas essa é uma outra história…
(Rui Monteiro – ETIM Portugal)